sábado, 1 de janeiro de 2011

adeus 2010

2010 não foi um ano, foi uma seqüência de atos falhos encadeados e desnorteados. Há quatro dias do fim, as duas da manhã, consigo dizer a plenos pulmões: estou feliz. E isso era inimaginável a um tempo atrás.
Em 2010 não aconteceu nada de irremediável. Ninguém querido morreu. Ninguém sofreu nenhum dano grave. Ninguém que eu amei foi embora permanentemente. Mas das pequenas coisas acumuladas foi possível fazer uma avalanche. Como quando uma bacia muito grande transborda depois dias e dias recebendo uma única gota.
Assim foi 2010.
De cara, no primeiro mês, as coisas saíram de prumo, se perderam num furacão. Às vezes é mais difícil parar do que continuar, mas às vezes é necessário parar. E quando não se entende a urgência dessa necessidade é fácil se machucar, bem fácil...
Fevereiro e março foram um suspiro disso tudo. Noites vazias e sem significado que na manhã seguinte não representavam nada além do que um grande vazio. Ou pior, na única noite que há algum significado, no dia seguinte não há mais nenhum.
E abril chegou corando essa seqüência de pequenos atos que viram um furacão. Incapacidade de dizer não. Incapacidade de saber a hora de parar. Incapacidade de entender as diferenças entre as pessoas. Incapacidade. Muita. Abril se arrastou e foi um furacão sem chuva no sertão. Ventava baixo e tudo que era possível enxergar diante dos olhos era uma poeira baixa, espessa, verde escura, bem escura.
Maio foi o suspiro de um doente terminal. Um mês sem gosto. Sem sabores. Quase um erro. Quase fazer alguém sofrer. Quando estamos à beira da morte –dramas a parte –qualquer um que se ofereça como bóia corre o risco de ser afundado. Ainda bem, na contagem de mortos, a mim não coube mais esse.
Junho chegou e disse: olha só, o tempo tá voando, as coisas vão melhorar. E eu lhe disse: mas eu sei piorar as coisas. E provei. Me preparei inteira com um objetivo e no ultimo segundo me perdi. Achei que era tudo, que apenas agüentaria minha culpa até vê-la refletida nos atos dos outros. Se foi um pagamento justo, não sei, mas que foi caro e custou o resto de sanidade que tinha, posso garantir que foi.
Julho só tinha um nome: fuga. Eu o fiz assim que possível. Não sem antes plantar uma semente bem verde, numa noite por aí, bem por acaso, bem sem querer. E parti. De malas prontas, cheias de uma vontade tão grande de não voltar. Mas tive de voltar, com uma vontade maior ainda de que não voltassem.
Para agosto recorri a São Jorge. Caio Fernando Abreu fez coro ao meu desespero e cada dia desse mês de agouros era meu mantra e meu consolo. Só que eu não sou uma boa católica e 2010 realmente não foi dos melhores anos... Na primeira semana a esperança, na primeira sexta feira a perdição, no primeiro domingo o paraíso, na segunda sexta feira a rendição. Havia uma lista colada na parede de coisas que já não cabiam em mim: ele, as noites vazias, os dias arrastados, as decisões engolidas. Mas era agosto, não me era permitida nenhuma atitude e eu aguardei, semeando aquela minha semente de julho.
Setembro era para ser apenas um mês feliz. Ele ganhou um pronome, nós, logo na primeira semana. Era um mês de espera e encontro. Até que na véspera do encontro, num telefonema de madrugada, tudo que não cabia em mim voltou. Não sei se naquela noite ele escutou meu choro do outro lado da linha ou se agora já foi capaz de entender tudo que se passou, mas juntei novamente os cacos e fui em frente. No fim do dia, quando outros olhos sorriram para mim, eu pensei, não há porque voltar, não há. O resto do mês passou num suspiro, num sorriso, apaixonado, apaixonante.
Outubro era um mês qualquer, apenas. Agora que os meses seriam contados em semanas, outubro se resumia a apenas quatro semanas sem. Mas, na hora do desespero, ganhou um lugar mais importante como mês que voltei a confiar em alguém, o mês que pedi ajuda. As 2h da manhã, numa terra estranha, sentindo falta do bem material mais querido que possuía, eu fui capaz de ligar e chorar e me sentir protegida apesar dos tantos quilômetros.
Novembro era para ser feliz. Eu fazia planos para dois dias e depois não queria estar aqui. Seria, no mínimo, sofrível, uma data como essa sem esse novo sorriso por perto. Eu estava feliz, confesso, mas ainda havia uma serie de coisas a serem resolvidas, só que agora não havia mais necessidade, nem urgência. Mas, na semana seguinte, quando eu decidi num impulso qual seria o presente de natal ideal, em 8min você me tirou o pouco chão que 2010 tinha sido capaz de me dar. Eu chorei. Aquele choro honesto de quando se sabe que a culpa não foi sua. Aquele choro de dor e desespero de quando não há mais saídas possíveis. Chorei e no meio do choro só quis um colo: o anterior. Mas dessa vez decidi que 2010 não iria me passar a perna assim, daquele tombo me refis e o que já não era urgente tornou-se primeiro plano. Nos braços dele me aninhei e esperei a dor passar. Me deixei, finalmente, leve, e me permiti brincar no mar e voltar para casa ouvindo reggae.
Dezembro veio antes do que todo mundo queria. No inicio, eu não queria. Vamos fingir que não é natal, que não há aniversario, que apenas 2010 vai embora. Mas houve uma conversa, as cartas foram expostas, as dores também. E depois uma despedida, verdadeira e sentida. Então uma serie de dias e fatos encadeados. Uma capacidade de dizer sim e não, de procurar e de me impor, não antes vista em 2010. Algumas mensagens, algumas noites boas, algum brilho no olhar e um cheiro bom no ar. De repente, já era véspera de natal e um segredo confessado de manhã somado a uma ligação e uma mensagem no anoitecer tornaram esse dia especial.
Enfim 2010 terminou e eu estou aonde queria estar quando pulei aquelas sete ondas no mar. Estou feliz. Não é que tudo vá bem, não é que não existam mais problemas, talvez agora eu tenha um dos grandes, mas estou tão tranqüilo e tão contente...



ps: é. o blog volta com a proposta de 365 post que eu quase consegui ano passado. mais determinação para esse ano, eu espero. 

Um comentário:

  1. QUE LEGAL...

    fico feliz por vc e por seus planos... é isso mesmo...

    feliz 2011...

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