sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ela estava cansada de fazer as coisas sozinhas, mas era domingo, as paredes se fechavam a sua volta, precisava de ar.

Estava cansada de fazer as coisas sozinhas mas até sua música não compartilhava com ninguém, ouvia, nos fones, sua cantora predileta cantando sua musica predileta, só para ela. Um conjunto de egoísmos somados.
Estacionou o carro o mais próximo que podia da lagoa, saiu, sentou-se no capô, olhando a água. Tirou da bolsa sua garrafa d’água e alguns de seus biscoitos preferidos. Tudo era conjugado no singular e no possessivo.

Esperou o sol descer bem muito, até se refletir quase completamente na água, rezou baixinho por trás da lente da câmera lembrando de uns olhos que tinham aquele mesmo tom de verde. Bateu a foto que mais achou demonstrar o quanto o queria, planejou enviá-la, realizou o sorriso dele seguido pelo telefonema internacionalmente apaixonado. Guardou a câmera e se pensou piegas demais. Era sempre assim, tudo era piegas, tudo era demais.

Saiu de cima do carro antes que escurecesse de vez. Remexeu na bolsa, pegou o celular e ali uma chamada não atendida de um moço que há pouco tempo usará inesperadamente uma serie de “nós”. Não retornou. Todo dia ela esperava alguém, mas todo dia colocava na porta mais um cadeado.

Dirigindo de volta para a casa tão vazia pensou que em breve aquele rapaz acharia alguém que gostaria de ouvir aquele monte de “nós” e que seria feliz para sempre enquanto fosse possível durar o para sempre. Quis telefonar, mas não conseguiu.


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