quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Eu tenho um coelho de pelúcia há quase 20 anos. É uma primeira versão do Sansão da Mônica que hoje vendem por aí. Não lembro ao certo quando o ganhei, parece um daqueles brinquedos que já nascem com a gente. Também não sei de onde tiramos seu nome, Orelhudo, mas nosso talento para nomenclatura persiste até hoje.

Eu o joguei fora, uma vez, tinha uns quatorze anos, quase quinze, mas minha mãe o recolheu do lixo e me disse que um dia eu iria querê-lo de volta e eu o quis, algumas semanas depois.

Nele foram depositadas as minhas poucas lágrimas de medo, as 4 anos, e ele estava no meu lado quando saímos para o meu primeiro passeio para cortar o cabelo depois da cirurgia. Anos depois, era ele que eu abraçava, a noite, quando sentia sua falta e não conseguia entender o que acontecia. Ele agüentou, mudo, toda a raiva infundada, o ódio, os piores anos. Ficou velho, desgastado, mas esteve lá, como uma lembrança de que havia algo de errado em todo aquele rancor, uma lembrança do passado feliz.

Os anos foram bons comigo, eu perdoei até o que eu não sabia que havia acontecido. Entendi que havia brigas que não eram minhas. E esse coelho esteve lá no dia em que eu chorei e te abracei e quando, pela primeira vez em uns 10 anos, eu pude contar com você.

Hoje você está ao alcance de um telefonema, a uns 20 min de carro, a um choro de socorro. Mas até quando você estará aqui? Até quando esse coelho pode descansar de todas as suas obrigações? 


posso ser egoísta mais uma vez e te pedir para não me deixar? 

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