quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ela encarava as paredes, o menino encostado em seu peito, uma criança de uns oito anos anormalmente comportada. A luz amarelada do lugar, a meia-música e o ambiente acolhedor, davam ao seu olhar toda uma serie de dizeres. Nenhum, infelizmente, positivo.
Não havia lagrimas, em nenhum dos olhos, elas pareciam ter secado a muito tempo. Ela, como um todo, parecia ter murchado. Olhos, cabelos, mãos, tudo, seco. Uma mulher seca. Na criança, também, não havia nenhum sinal de vida que não fosse uma respiração pesada, densa, de um sono inquieto em pensamentos.
Os dois repousavam do mundo e o mundo a sua volta pouco lhes parecia perturbar. Estavam imersos em seus próprios problemas, em suas próprias vidas. Vidas essas que pareciam prestes a se refazer.
Ela olhava inquietamente o celular, conferia as fotos, uma a uma, e as deletava, naquela processo moderno de desapego. Chegou ao fim, não havia mais sinais dele, seja ele quem for, no celular, só nos seus olhos.
O menino se remexeu quando ela colocou o celular na mesa, acordou. Levantou a cabeça com calma, parecia entender toda a dor da mãe, mas que criança não compreende?! Não pediu para ir embora, não reclamou, não falou.
Ela tocou-lhe o rosto e os cabelos, acariciou-os, como quem diz sem palavras: desculpas. Como toda mãe que se culpa por qualquer dor de um filho. Como toda mãe que ama um filho.
Respirou pesado, acenou para o garçon, pagou a coca cola. Abraçou firme a criança, soltou-a, recolheu a bolsa e levando o menino pela mão saiu do café, ainda parecendo aquela mulher murcha, aquela mulher seca, aquela mulher que sofre; mas agora uma mulher capaz de encarar o mundo. 

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