terça-feira, 6 de julho de 2010

 Entrar ali, hoje, acompanhada dele, mas não na posição que costumava entrar. Perceber, pela primeira vez em mais de um ano, a câmera do elevador. Esconder a familiaridade com aquele lugar, com a entrada de serviço, com os móveis da sala... Tudo parecia um confuso furacão de cores , sons e gostos de um passado que para mim ainda não está morto. Sorrir, como se fosse natural, e guardar para mim todas as impressões.
Buscá-lo com o olhar e percebê-lo longe dela. Ficar feliz. Bobamente feliz. Recordar quantas vezes estive ali, uma, duas, três, quatro, cinco... Perder a conta. Ouvir sua voz nas minhas costas, ter medo de vê-lo ao lado dela.
A primeira vez que fui ali, ainda havia um móvel no corredor que muito me impressionou, hoje não há mais... Também não me recordo desse outro sofá, nem da sua mãe tão nova assim. Fico tentando achar sinais seus nela. Da onde vem seus olhos para mim tão verdes?
De novo sua voz, dessa vez arrisco um olhar e aquela sensação de será que você estava olhando para mim? Não, ele não estaria olhando para mim, tudo já passou... e desde quando foi tudo?
O tempo se arrasta, as conversas se alongam, o jogo não anda. Ela não bebe. Ela não parece uma mulher para você, e qualquer outra mulher no meu lugar diria isso. Eu encaro minha ressaca com mais uma cerveja, ela se resigna a uma coca-cola.
E o abraço de ontem? E os olhares? E a lembrança de uma promessa tão remota? Foi tudo ilusão, claro. Claro.
Eu seria amiga dela, riria com ela, faria ela se portar melhor, se vestir melhor, teria longas tardes no shopping com ela. Mas não consigo nem odiá-la. É ela que você quer, deve haver algo que eu não consigo ver.
Finalmente, terminou. Terminaram as formalidades, terminou o tempo, é hora de partir. Dou espaço, abraço-o, lembro da promessa fazendo minha maior cara de não ligo, deixo-a atrás, espero o barulho, o beijo, entro no elevador, ela demora uns segundos a mais, longe dos meus olhos, obrigada. Se pudesse, se o orgulho permitisse, ali eu gritaria, eu choraria, eu diria tudo que não disse, eu te deixaria partir. Mas eu apenas calo, sorrio, e rezo para essa dor passar. 

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